sexta-feira, 17 de outubro de 2008

ALTERIDADE


A alteridade é um termo que vem sendo usado há pouco tempo, mas é uma postura que tem sido aconselhada pelos espíritos de luz, desde a codificação elaborada por Kardec. Entretanto vivenciar o valor da alteridade não significa deixar de discutir, debater, questionar. A discussão, o debate e o questionamento são saudáveis quando se respeita o outro e a sua maneira de ser e de pensar.
A alteridade nos leva a ver todos com bons olhos, lembrando as palavras de Jesus: “Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas.” (Mateus 6:22 e 23)
A pessoa que vivencia a alteridade é mais fraterna em todos os sentidos, deixando de criticar, julgar, agredir... E esse tipo de atitudes deixa o ser em paz consigo mesmo, com a humanidade, com a vida. As posturas de julgamento e crítica geralmente denotam uma idéia de superioridade, porque ao criticarmos o outro estamos querendo diminuí-lo, para que a nossa “grandeza” fique mais visível. Com tais atitudes, que têm como combustível o orgulho e a vaidade, estamos enviando uma vibração negativa ao objeto da nossa crítica, seja ele uma pessoa ou uma instituição.

Desenvolvendo a alteridade, respeitando a maneira de ser dos outros em seus erros, equívocos e até mesmo em suas maldades, consideramos que todos somos seres em diferentes faixas evolutivas.

““Onde houver duas ou mais pessoas reunidas... ali estará o conflito. Cabe a nós aprender a administrar os conflitos interpessoais e isto só será possível se tivermos alteridade.”( Wanderley S. Oliveira)

sábado, 11 de outubro de 2008

A IDADE


Minha mãe fez 80 anos, com saúde, disposição de espírito como alguém que leva a vida como se tivesse 50 anos. Talvez menos, eu digo, principalmente de observarmos quando ela passeia num shopping e derrota fácil outros acompanhantes, que não agüentam andar 10 ou 15 quilômetros que ela anda fácil num lugar desses. Isso é belo de se ver.


Deveríamos começar a eliminar rapidamente em nossa sociedade práticas arcaicas de segregar os mais velhos, como fazemos na família e na sociedade. E isso não só por dever moral, mas por sabedoria social e política, uma vez que agora somos uma sociedade parecida com as européias, com um grande contingente de pessoas “da terceira idade” e com uma crescente “expectativa de vida”.

A sociedade brasileira busca ser mais suave a cada dia. Pode não conseguir, mas ao menos em intenção, esse é o objetivo da nossa legislação social. Principalmente no campo da esquerda, podemos errar aqui e ali na hora de fazermos nossa legislação de apoio social, mas a intenção é a suavização das relações sociais. Então, precisamos urgentemente terminar com as barreiras impostas aos velhos. Além disso, é necessário começarmos a ouvi-los com mais atenção, e buscar neles exatamente o que eles aprenderam, e que nós ainda não aprendemos e queremos aprender, mas que teimamos em errar mais de uma vez por não ouvi-los.

Não se trata apenas de ouvir os mais velhos quando eles são intelectuais e com acesso aos meios de comunicação. Temos de aprender a ouvir e viver com os mais velhos, mesmo quando não foram gênios. O maior dilema do brasileiro é cultural, quanto à velhice. Encostamos nossos velhos. Não os suportamos. Eles “dão trabalho”. Somos heróis da “vida ocupada” aos 30, 40 ou 50 anos. Não temos tempo para gastar com os velhos. Que ignorância a nossa! Não nos passa pela cabeça que estaremos com 80 anos ou mais, e que o pior disso não será o asilo, mas o canto da casa – o lugar que é reservado para os que não podem optar ou, de modo mais grosseiro, os que não devem mais optar e ensinar.

Sempre tive um profundo amor e humildade intelectual diante dos velhos da minha família. Nada seria se não tivesse tido avô e avó perto de mim. Não como substitutos dos pais, que realmente não foram, mas como mestres e interlocutores. Na minha casa, os velhos nunca fora colocados em segundo plano, sempre estiveram na ponta da mesa e sempre deram a última palavra. Ficar velho, em casa, quando éramos uma família grande, não era uma desgraça, mas um privilégio e uma forma de poder assumir o comando com mais autoridade que até então tinha. Assim é, ao menos para mim, na minha casa hoje. Assim é para Fran e eu.

Minha mãe fez 80 anos. Mas é visível que a educação que eu recebi e que, em parte, fez de mim filósofo, não conseguiu vencer as barreiras de uma sociedade onde impera um profundo preconceito contra os velhos. Pois eis minha derrota pessoal: tenho dois filhos (de mulheres diferentes, que foram minhas esposas – as duas com boa formação universitária), e embora educados no sentido de privilegiar os mais velhos, eles não vieram para a reunião feita para a minha mãe, no interior paulista.

Os jovens estão ocupados. Eles acham que estão ocupados. Alguns, nem ligam para nada. Outros até ligam, mas possuem desculpas para si mesmos para faltar numa festinha da avó. 80 anos todo mundo faz todo dia, pensam eles, os tolos. Ah! Que sorte eu tive de não ser como eles.

Cada um de vocês que lê essas linhas, a partir de hoje, aprendam: dos velhos saem as verdades que não temos coragem de contar e ouvir. A verdade é função de liberdade, por isso, sendo os velhos mais livres, com eles está a verdade. A idade os coloca acima de situações de competição e vergonha, e só eles podem nos dizer de fato o que é a vida. Quando não somos capazes de escutá-los por causa de que um quarteirão de distância nos separa deles, somos burros e preguiçosos. Quando não somos capazes de vir ouvi-los porque quilômetros nos separam deles, somos estúpidos e talvez estejamos já cegos para o que é prioridade na vida.

Eu poderia dizer “onde errei na educação dos meus filhos”? Mas não digo. Pois não fui eu quem errou. Eles, os filhos, é que estão errando por eles mesmos. Não nasceram com a minha inteligência. Talvez até sejam inteligentes, mas de uma inteligência que não é do tipo da minha. Na minha opinião, eles são burros.

Uma sociedade como a nossa precisa conseguir mecanismos para quebrar essa visão que envolve os velhos, tornando-os meras peças gastadas do mundo. Precisamos retomar a idéia de que uma sociedade só pode ser uma sociedade de fato quando seus anciãos são não só cuidados, agradados e respeitados, mas quando são ouvidos.

Deveríamos levar mais a sério Platão, quando ele pensou na cidade justa, em A República, como uma sociedade governada por um conselho de sábios que era, antes de tudo, um conselho de anciãos. Não deveríamos tomar isso como fórmula política, deveríamos tomar isso como sugestão ético moral muito além da idéia de governo. Talvez Platão estivesse querendo dizer mais coisas para nós quando assim escreveu. E visto que ele colocou que a filosofia só deveria ser estudada após os 30 anos, justo ele que foi aluno de Sócrates ainda rapaz, deveríamos lê-lo como realmente nos alertando para coisas mais profundas ao indicar a idéia do amadurecimento da idade para cada coisa.

Mas será que os jovens têm ouvidos para ouvir Platão? E nós, de meia idade, temos? autor paulo o filósofo